Onicotomia, ou Remoção das Garras – parte 2

05 agosto 2015, 10:00. Postado por Resgatinhos

No outro post já explicamos o que é a onicotomia, ou cirurgia de remoção das garras dos gatos. Essa cirurgia horrível pode levar a complicações físicas, emocionais e comportamentais, que vamos cobrir no post de hoje.

AS GARRAS DOS GATOS

Ao contrário da maioria dos mamíferos, que anda com as solas de suas patas ou pés, os gatos são digitígrados, o que significa que eles andam sobre os dedos. As juntas, músculos, tendões, ligamentos e nervos de suas costas, ombros, patas e pernas são naturalmente projetados para apoiar e distribuir o peso do gato sobre os dedos quando ele anda, corre e escala. As garras são usadas para dar equilíbrio, exercitar e alongar os músculos das pernas, costas, ombros e patas. Eles alongam esses músculos enterrando as garras nas superfícies e puxando no sentido contrário das garras – semelhante aos exercícios isométricos feitos pelos humanos. Esta é a única maneira que um gato consegue exercitar, alongar e tonificar a musculatura das suas costas e ombros. Os dedos ajudam a pata a encostar no chão em um ângulo preciso para manter os músculos e juntas da perna, ombros e costas, com um alinhamento adequado. A remoção das falanges distais dos dedos altera drasticamente a conformação dos seus pés e faz com que eles encostem no chão em um ângulo que não é natural e que causa uma dor semelhante àquela causada nos humanos quando usam sapatos não adequados.

COMPLICAÇÕES FÍSICAS DURANTE E/OU APÓS O PROCEDIMENTO

A taxa de complicações causadas pela onicotomia é alta se comparada com outros procedimentos considerados de rotina. Entre elas podemos citar:

  • dor excruciante;
  • danos ao nervo radial;
  • hemorragia;
  • lascas de ossos que impedem a cicatrização;
  • dores crônicas nas costas e juntas a medida que os músculos das escápulas, das pernas e das costas enfraquecem;
  • as garras podem crescer novamente, deformadas, por dentro da pata.

Como se não bastasse, podemos incluir também: hemorragia pós-operatória, tanto imediatamente após a cirurgia quanto após a retirada dos curativos; isquemia (má irrigação sanguínea) da pata; aleijamento devido à infecção da ferida ou laceração das almofadas das patas; necrose exposta da segunda falange, e abcessos associados com a retenção de porções da terceira falange. Abcessos devido ao novo crescimento das garras devem ser tratados através da remoção cirúrgica do que restou da terceira falange e desbridamento da ferida (retirada do tecido necrosado e/ou corpo estranho ao organismo). Durante a amputação da falange distal o osso pode se estilhaçar e causar o que se chama de “sequestrum”, que serve como um foco de infecções, causando uma drenagem contínua no dedo. Isso exige uma segunda anestesia e cirurgia. Pode ocorrer também o crescimento anormal dos terminais nervosos cortados, o que causa sensação constante de dor nos dedos a longo prazo. Apesar de todas as precauções serem tomadas, é comum acontecerem infecções.

COMPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS E COMPORTAMENTAIS

Alguns gatos entram em tal estado de choque ao terem suas garras removidas que sua personalidade muda. Gatos que eram alegres e amigáveis se tornam retraídos e introvertidos após a cirurgia. Outros, privados de seu meio primário de defesa, se tornam nervosos, medrosos e/ou agressivos, muitas vezes fazendo uso do seu único meio de defesa restante, seus dentes. Em alguns casos, quando gatos cujas garras foram removidas usam a caixa de areia após a cirurgia, suas patas estão tão sensíveis e doloridas que eles associam essa nova dor com a caixa… resultando em uma aversão permanente ao uso da caixa de areia. E se o gato não usa a caixa, com certeza vai encontrar outro lugar, mais confortável, para fazer suas necessidades. Outros gatos, ao não serem mais capazes de marcar seu território através de marcas deixadas pelas garras, o farão com urina, o que resulta em problemas de eliminação inadequados. A ironia disso tudo é que muitos donos optam por essa terrível cirurgia para acabar com os sofás arranhados, e acabam entregando seus gatos a abrigos, ou simplesmente abandonando-os na rua, devido aos problemas comportamentais que se desenvolveram depois da cirurgia para remoção das garras.

Muitos gatos ficam tão traumatizados com essa mutilação dolorosa que passam o resto de suas vidas em cima de armários ou geladeiras, fora do alcance de predatores reais e imaginários contra os quais eles não podem mais se defender. Remover as garras de um gato o faz sentir indefeso. O estado de stress constante causado por esse sentimento pode deixar alguns gatos mais propensos a doenças. O stress leva a uma séria de problemas físicos e psicológicos, inclusive supressão do sistema imunológico, cistite e síndrome do intestino irritável.

CONSIDERAÇÕES MORAIS, ÉTICAS E HUMANAS

A justificativa veterinária para a remoção das garras é que o proprietário irá abandonar o gato se ela não for feita. É eticamente inapropriado que os veterinários se submetam a esse tipo de chantagem por parte de seus clientes.

A maioria das pessoas se opõe veementemente à remoção das garras devido a uma combinação de fatores: 1) porque o fim (conveniência do proprietário) não justifica os meios (causar dor desnecessária ao gato); 2) porque existem outras alternativas menos prejudicias que a remoção das garras, e 3) porque as garras fazem parte da natureza, ou da “felinidade” dos gatos. De modo geral, considera-se que é eticamente inapropriado remover partes da anatomia de um animal (e aí incluímos caudas e orelhas de cães!), causando-lhe dor e sofrimento, simplesmente para atender ao estilo de vida, conceito de estética ou conveniência do proprietário, sem benefício para o animal. Deve-se enfatizar que “a maioria das pessoas” inclui virtualmente toda a população adulta da Europa e muitos outros países ao redor do mundo. Segue uma lista parcial dos países onde a remoção das garras é considerada ilegal ou extremamente inumana, e realizada somente em circunstâncias médicas extremas:

Inglaterra – Escócia – Gales – Irlanda do Norte – Alemanha – Áustria – Suíça – Noruega – Suécia – Holanda – Dinamarca – Finlândia – Brasil – Austrália – Nova Zelândia.

Apesar de inúmeros movimento e petições contra a remoção de garras nos Estados Unidos, a prática infelizmente continua sendo bastante comum por lá :-(

O fato de que muitos gatos se recuperam dessa terrível experiência sem demonstrar grandes consequências, e mesmo que pareça que eles não guardam rancor, não é justificativa para fazer um membro da sua família passar por uma experiência tão repugnante. Resumindo, um gato sem suas garras é um gato mutilado, e nada justifica essa cirurgia. O seu gato depende de você, e confia em você para protegê-lo. Não traia essa confiança.

fonte: http://www.declawing.com

RESSALVAPara escrever nossos posts pesquisamos muito, e confirmamos todos os dados conversando diretamente com especialistas veterinários. No entanto, nós mesmas não somos veterinárias, e não podemos fazer diagnósticos, prescrever tratamentos ou medicamentos, muito menos online. Além disso, muitas vezes não conseguimos ler as mensagens todos os dias, então pedidos ‘urgentes’ perdem a razão de ser. Se o seu gatinho estiver apresentando qualquer tipo de problema de saúde, a primeira providência SEMPRE é levá-lo a um veterinário qualificado.
 

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7 Responses to Onicotomia, ou Remoção das Garras – parte 2

  1. Olá , li a matéria e fiquei chocada … que brutalidade com os bichanos !
    Depois me veio uma duvida, cortar as unhas seria doloridos para eles ?
    Comprei uma tesourinha no pet shop, mas confesso que fico apreensiva em usar,
    os gatos ficam agitados e parecem não gostar , sempre corto as pontinhas e lixo,
    isso esta correto ?
    Grata pela atenção

    • olá Mavi, cortar não dói, desde que vc tome o cuidado de não pegar no sabugo (a parte rosinha). Eles não costumam gostar mesmo, principalmente se não foram acostumados desde filhotes, mas aqui em casa meu truque é pegá-los quando estão dormindo ou sonolentos, corto nem que seja umas poucas unhas de cada vez, hehe. Estamos preparando um post exatamente sobre isso, fique de olho.

  2. O ser humano tem um lado sombrio, horroroso, capaz de barbaridades como essa. Nem posso imaginar a dor, física e emocional, de um ser tão frágil ser levado por seu próprio dono a um castigo tão pavoroso. Corto uma vez por mês as unhas dos meus dois gatos, bem longe da parte rosa. Eles não gostam, mas deixam. Obrigada por este espaço. Abração. Deo

  3. Absurdo que seja permitido que clínicas veterinárias façam uma covardia dessas com os pobres animais! O veterinário que faz isso não deve ter coração!!
    #semnoção!!

  4. olá dei uma passada por aqui para buscar ajuda e o fui muito obrigada por suas dicas e tenho uma gatinha a qual eu e meu marido a amamos muito fico feliz ao ver que tem gente no mundo que se importa com os animaizinhos estou-lhe grta e conte comigo.Obrigado

  5. Sou contra a remoção das unhas em gatos. Mesmo que não trouxesse dor e problemas de saúde eu seria contra porque arranhar é um comportamento natural do gato. Se ele não está a arranhar no local certo ou é agressivo deverá ser adestrado de forma a deixar estes comportamentos. Remover as unhas ao gato só porque não arranha onde queremos é como remover as cordas vocais a um humano só porque diz besteiras.

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